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Fortunato Frederico em entrevista ao LABOR

sexta-feira, 24 de julho de 2020
sobre Plataforma digital Overcube
Fortunato Frederico em entrevista ao LABOR

Em entrevista ao Jornal LABOR, Fortunato Frederico, um dos fundadores do Grupo Kyaia, falou sobre a  sua mais recente aposta, a plataforma digital Overcube.

 "As vendas online vão ser efetivamente parte integrante do comércio mundial."

A Overcube foi lançada em 2018 para agitar e revolucionar o mundo do calçado e acessórios online. O sonho tem sido uma realidade?
Esse  era  um  sonho  do  Grupo  Kyaia  desde  2001  quando  fizemos  a  primeira  loja  de  venda  online  com  a  “bênção”  do  atual  Sr.  ministro  do  Planeamento,  Dr.  Nelson  de Souza. Acabou por ser cedo demais,  mas  ficou  sempre  cá  a  ideia  de que mais tarde ou mais cedo teríamos de avançar com um projeto mais  consistente.  Estamos  sempre  a  aprender  e  foi  uma  aprendizagem que fizemos com aquela loja. Ao  fim  de dois anos tivemos de a fechar porque ela não vendia.  Mas ficou sempre a ideia de que a venda  online  seria  sempre  uma  parte  forte do futuro.

Quando sentiram que deviam voltar a apostar nas vendas online?
Entretanto,   as   coisas   foram   mudando.  Em  2016,  2017,  surgiram  mudanças  no  mercado  quer  por   questões   geracionais,   quer   por  questões  de  manutenção  e/ou  de  custos  e  começaram  a    fechar  algumas  lojas,  tanto  em  Portugal  como  na  Europa.  Aí  pensamos  em  avançar  com  a  plataforma.  Sabíamos que o investimento seria muito forte.

Aí soube que era o “tempo certo” para concretizar o sonho do Grupo Kyaia?
Podemos dizer que sim. Não sei se  foi  por  ter  sido  presidente  da  APICCAPS  (Associação  Portuguesa  dos  Industriais  de  Calçado,  Componentes,  Artigos  de  Pele  e  seus  Sucedâneos)  que  me  permitiu  conhecer bem o tecido empresarial. O que sabia é que se havia mudanças para nós também ia haver mudanças para os outros fabricantes. Não eramos  vítimas  das  mudanças  sozinhos.  Portanto,  foi  a  hora  do  arranque e entre agosto, setembro e outubro cerca de 31 técnicos qualificados deram corpo à equipa da Overcube cuja inauguração contou com  a  presença  do  senhor  primeiro ministro, Dr. António Costa.
Tenho a certeza que muitas marcas têm vendido para mercados que não teriam vendido se não estivessem na plataforma.

Qual o principal objetivo da Overcube em relação à indústria do calçado?
Acima de tudo ajudar a internacionalizar  a  indústria  e  lançar  novos  jovens  que  queiram  apostar  na  indústria.  Portanto,  pensei  em  criar  uma  plataforma  que,  embora  fosse  um  negócio  para  nós,  visava  também  ajudar  a  indústria  nacional  a  dar o seu salto qualitativo. Temos as feiras  que  são  uma  ferramenta  ótima,  mas  sentimos  que  já  começava  a  ser  preciso  algo  mais,  um    novo  paradigma.

Qual a avaliação desta aposta no digital?
Ao  fim  de  dois  anos,  iniciámos  uma  análise  ao  investimento  realizado.  Chegámos  à  conclusão  que  era necessário racionalizar os custos com  a  aquisição  dos  novos  clientes.  Neste  momento  estamos  a  trabalhar  num  novo  paradigma.  Investir  sim,  mas  com  racionalidade.  Quero  salientar  que  foi  este  nosso  investimento  que  nos  fez  chegar  a  toda  a  Europa  com  mais  de  500  milhões  de  habitantes,  e  aos  EUA,  Canadá  e  Nova  Zelândia  com  cerca  de  mais  500  milhões  de  habitantes.  Gastámos  muito  dinheiro,  mas  efetivamente  a  Overcube  hoje  já  está  em  muitos mercados.

Das 60 marcas registadas, quantas são portuguesas?
Das  60  marcas  que  temos,  cerca  de  metade  será  portuguesa  e  as outras  estrangeiras.  Tenho  a  certeza  que muitas marcas têm vendido para mercados que não teriam vendido se não  estivessem  na  plataforma.  Por  exemplo,  a  Foreva  hoje  vende  para  mercados que nunca venderia se não estivesse na plataforma. A indústria não tem capacidade financeira para fazer tantas feiras

Isso demonstra que a internacionalização pode ser feita a par das feiras e da presença no digital?
Vai  ao  encontro  daquela  minha  ideia  de  que  seria  uma  ferramenta  para ajudar a indústria portuguesa a internacionalizar-se  de  outra  forma.  Se não tivéssemos investido em feiras como investimos, de certeza que, hoje, a Fly London não era conhecida e procurada como é no mundo. Com o  seu  conhecimento  de  mercado,  a  Fly é a marca que mais vende na plataforma.  Isso  é  resultado  de  todo  o  dinheiro  que  gastámos  nas  feiras  a  internacionalizar a marca.

Então a presença nas feiras continua a ser importante para as marcas?
Sim. Só que nem toda a indústria estará em condições de fazer as feiras que fizemos. Por isso, a plataforma seria uma forma mais económica e  segura  de  ajudar  essas  marcas  a  chegarem aos clientes.Vendemos mais nestes dois anos de   experiência   na   plataforma   do   que em dois anos nas feiras porque andámos  muitos  anos  a  fazer  feiras  em  que  não  se  vendia  um  par.  Hoje  temos  um  grande  mercado  nos  Estados  Unidos,  mas  andámos  lá  seis  anos sem vender um par.“Pensei que este era um projeto que podia  ?vender ? com facilidade à APICCAPS, mas não foi esse o resultado”

A indústria do calçado não tem capacidade para estar presente em tantas feiras?
A indústria não tem capacidade financeira nem recursos humanos para fazer tantas feiras. Por isso, digamos que muitas marcas não  são  conhecidas.  Podem  ser  muito  boas  marcas no mercado nacional, mas no mercado  internacional  representam  pouco.  A  plataforma é, assim, um meio para as divulgar também no exterior.

Tentou “vender” este projeto a alguém?
Sim.  Pensei  que  este  era  um  projeto  que  podia  “vender”  com  facilidade  à  APICCAPS,  que  poderia  interessar-se  por  esta  plataforma  como  se  interessa  pelas  feiras,  mas infelizmente não foi esse o resultado. A APICCAPS  sempre  se  empenhou  nas  feiras,  foi uma política de sucesso, foi assim que a indústria cresceu, mas estava convencido de que ia acarinhar, digamos, este projeto. Tivemos de repensar o projeto.“A plataforma não está a crescer exponencialmente, mas está a crescer sustentadamente”

Que alterações sofreu o projeto?
A  plataforma  vai  continuar  a  trabalhar  num novo paradigma de maior racionalida-de,  digamos,  em  termos  de  gastos,  mas  vamos  continuar  a  investir  e  estamos  a  fazer  um  novo  projeto  mais  equilibrado  em  termos de custos e de ganho do cliente.Neste  momento  a  plataforma  não  está  a  crescer  exponencialmente,  mas  está  a  crescer  sustentadamente.  O  que  nos  dá  um  pouco  mais  de  força  para  continuarmos  a  investir.  Não  há  outra  saída,  se  houvesse  procuraríamos, mas não há. As vendas online vão ser efetivamente parte integrante do comércio mundial.

Encontrou outros condicionalismos pelo caminho?
Parace   que   há   condicionalismos   da   União  Europeia  com  regras  que  têm  de  ser  cumpridas.  Nunca  tivemos  apoios  para  fazer  alguma  iniciativa  porque  esbarrávamos  nas  regras  da  Comunidade  Europeia.  Não somos   especialistas   na   cativação   desses   meios  de  subsistência,  mas  não  acho  justo.  Uma  empresa  que  se  esforça  por  dar  emprego  e  dinamizar  a  economia  nacional,  a  Comunidade  Europeia  em  vez  de  a  apoiar,  marginaliza-a?  Não  aceito  isso.  O  meu  antieuropeísmo  veio  um  pouco  dessa  realidade. Parece que não mudou ainda. Queríamos continuar a investir com força, com a ajuda da União Europeia, mas tivemos de repensar o projeto. Reduzimos as 30 e tal pessoas que estavam a trabalhar nessa área para 20. Só assim  podia  continuar  a  ser  sustentável  e  razoável. Não chegámos a uma situação de rutura, abrandámos e estamos a repensar no projeto. Os fundos da empresa não esticam conforme o nosso gosto e têm de ser racionalizados e estimados.O meu antieuropeísmo veio um pouco dessa realidade.

Quanto investiram na Overcube?
Ao  longo  de  dois  anos,  investimos  4,5  milhões de euros de fundos próprios da Fortunato O. Frederico, que é dona da Overcube. Estava à espera que a plataforma crescesse mais,  embora  tivéssemos  também  faturado  4,5  milhões,  mas  o  esforço  financeiro  é  muito  grande  para  que  possamos  sozinhos  fazê-la  crescer  ao  ritmo  a  que  estamos  habituados a que os nossos projetos cresçam.

Qual o balanço do retorno?
Estamos num bom caminho.“Os fundos da empresa não esticam conforme o nosso gosto e têm de ser racionalizados e estimados”

Quantos clientes tem?
Hoje  já  tem  cerca  de  40  mil  clientes.  Já  valeu a pena. Neste momento a maior parte é estrangeira.

As vendas abrandaram com a pandemia?
Sim. As vendas baixaram em massa, em março,  fruto  da  pandemia  que  estamos  a  viver.  Foi  o  patamar  mais  baixo  que  atingimos, mas a satisfação é que, a partir de abril e  maio,  as  vendas  voltaram  a  crescer  aos níveis  antes  da  pandemia.  Como  temos  uma  nova  política  de  investimento  nas  redes  sociais,  estamos  a  conseguir  crescer  lentamente.  E  como já diz o ditado: “grão a grão enche a galinha o papo”.

Qual o resultado da primeira iniciativa solidária da Overcube Colletiva?
Superámos  o  objetivo  definido  ao  conseguirmos  doar  970  batas  cirúrgicas,  em  vez  das  600  defini-das,  ao  Serviço  Nacional  de  Saúde  (SNS).  Os  profissionais  do  SNS  são  os  nossos  heróis  do  momento.  De  junho  a  setembro  decorre  uma  segunda iniciativa que visa apoiar os profissionais que prestam apoio nos lares  de  idosos . “Os profissionais do SNS são os nossos heróis do momento”

Uma outra aposta vossa no digital é o showroom virtual “Shoeply”...
Todos  os  anos,  duas  vezes  por  ano,  costumamos  fazer  uma  reunião com os clientes internacionais, onde apresentamos a coleção. Eles vêm  a  Portugal  e  trabalhamos  durante  três  dias  sobre  a  coleção.  Com  a  pandemia  não  foi  posssível  chamá-los  cá.  Na  primeira  semana  de junho fizemos a apresentação a nível  mundial  através  da  plataforma em que toda a gente estava em sua  casa  a  ver  a  coleção  e  a  fazer  os  seus  comentários.  Estive  a  assistir  um  pouco  e  fiquei  satisfeito  porque  a  nossa  empresa  de  programação,  informática  e  software  criou uma plataforma interessante, onde estavam cerca de 40 pessoas via computador. Ao fim do dia já tínhamos  informações  mais  precisas  e antecipadas sobre a coleção. Demonstrou ser um meio mais prático e económico de trabalhar uma vez que  já  sabíamos  o  que  tinha  agradado  ou  não  aos  nossos  agentes,  quando antes só dias mais tarde o sabíamos.  Esta  nossa  empresa  desenvolve  algoritmos  para  a  nossa  produção nas fábricas de calçado.

Como está a marca cem por cento digital Rawcube?
Neste momento está estacionária  porque  temos  problemas  mais  importantes a resolver. Temos clientes a pedir para anular encomendas e a pedir desconto porque não têm dinheiro   para   pagar.   O   mercado   não  está  muito  recetivo  a  novos  projetos. Este é um projeto que vai aguardar  até  que  a  pandemia  seja  vencida.“Elas (lojas física e online) vão coexistir de forma mais racional.

A vossa aposta no digital é uma aposta ganha?
Sem   dúvida.   Esta   pandemia   obrigou a parar e a refletir. As pessoas lançaram as suas dúvidas. Hoje tenho a certeza que mesmo sem as ajudas devíamos ter antecipado as vendas online, um ou dois anos pois as barreiras que enfretamos hoje já tinham sido ultrapassadas, como as vamos ultrapassar agora.

Acredita num casamento entre a loja física e a loja online ou uma vai anular a outra?

Não  prevejo  que  uma  vá  extinguir-se  em  favor  da  outra.  Elas  vão  coexistir  de  forma  mais  racional.  Chegámos  a  ter  uma  rede  de  80  lojas,  que  hoje  está  reduzida  a  metade e durante anos deu prejuízo, mas teimámos e aguentámos o prejuízo.  Hoje  temos  cerca  de  40  lojas  e  vamos  prosseguir  o  nosso  caminho,  ajustando conforme  as  necessidades.  As  lojas  físicas  vão  continuar a existir porque são úteis para o projeto.

A história do grupo
A  Kyaia  foi  fundada  por  Fortunato  Frederico  e  Amílcar Monteiro em 1984 e lidera o grupo empresarial com mais de 600 trabalhadores com um volume de negócios de 55 milhões de euros.Além da produção de calçado, o modelo de negócio estende-se às áreas de distribuição, retalho, imobiliário e ainda tecnologias de informação.O  grupo  é  responsável  por  marcas  de  sucesso  como  a  Fly  London,  a  Softinos,  a  Foreva  e  As  Portuguesas. A Fly London é a principal marca do grupo criada em 1994. Nasceu como marca de calçado, mas estendeu-se  a  outras  áreas  de  produto  como  coleção  de  carteiras e óculos de sol.A Overcube nasceu em 2018 do desejo do grupo em agitar e revolucionar o mundo do calçado e dos acessórios online.

Overcube em números

4.453,779  milhões  de  euros  de  investimento:  2.308,251  milhões  em  investimento  e  marketing,  1.705,591  milhões  em  pessoal,  321.739  mil  euros  em  equipamento  e  118.198  mil  euros  em  outros gastos

21 colaboradores

61  marcas:  30  Portugal,  13  Espanha,  9  Itália,  3  Reino Unido, 2 Canadá, 1 Alemanha, 1 Estados Unidos da América, 1 Holanda e 1 Polónia

39.471 clientes: 11.411 em 2018 e 28.060 em 2019

5.126.958,21  milhões  em  vendas: 1.200.715,01 em 2018 e 3.926.243,2 em 2019


(Entrevista retirada  na integra do Jornal LABOR - https://labor.pt)

Fonte: LABOR,24junho2020
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