O
mercado global de vestuário, que representa 2% do PIB mundial, está dependente
da previsão das últimas tendências da estação. Essas tendências, porém, tão
depressa nascem, como morrem. Portanto, ser capaz de antecipar as vontades dos
consumidores pode implicar diferenças multimilionárias nos números anuais.
À medida
que as tendências oscilam, a capacidade de aplicar insights em tempo real e até
mesmo preditivos é uma grande vantagem para as marcas e retalhistas de moda e
utilizar esta informação para prever a próxima macrotendência pode distinguir
os vencedores dos perdedores do sector. A tecnologia pode dar uma mão, analisa
a Quartz.
Quer se
trate de sapatilhas brancas imaculadas ou de looks em vermelho total, as
capacidades dos cérebros humanos que deliberam sobre essas tendências podem ser
aprimoradas pelas capacidades analíticas das máquinas. Agora mais do que nunca,
os dados estão a ser alavancados para inspirar designers e minimizar riscos.
Quando os criadores de moda se sentam para desenvolver as próximas linhas, os
esboços podem já ser ditados por dados reais e não apenas pela sua imaginação.
A
computação cognitiva, um tipo de sistema de Inteligência Artificial (IA),
analisa dados para estabelecer conexões entre diferentes elementos de
informação. Tal como o cérebro humano é capaz de processar imagens visuais,
vídeos, análises de moda, médias sociais e até previsões meteorológicas, a
tecnologia pode fazer isso mas em grande escala, permitindo antecipar mais
eficazmente a procura por produtos, por exemplo.
Na IBM, o
sistema cognitivo Watson tem sido usado para prever corretamente as cores e os
padrões que dominarão os guarda-roupas dos consumidores.
Indo ainda
mais longe, a democratização da análise de tendências poderia ter um efeito
profundo nas empresas. Habitualmente, os retalhistas de moda rápida contam com
empresas de análise de tendências para lhes dizerem que ideias são mais viáveis
quando se trata de custos de produção. A maioria das marcas começa a
desenvolver produtos para a nova estação um ano antes das vendas.
Já as
casas de moda contratam geralmente empresas e talentos externos que navegam em
centenas de blogs e estudam milhares de imagens de desfiles, redes sociais e
arquivos de moda para desvendarem as tendências e fomentar a inspiração. Essa
estratégia pode estender-se a meses – e representa uma despesa colossal – para
descobrir os insights que a IA pode oferecer em segundos.
Os
especialistas em análise de tendências como o portal WGSN podem custar mais de
50 mil dólares (aproximadamente 42 mil euros) anuais em assinaturas, mas a
tecnologia cognitiva permite aos designers acumular dados internos e externos
nas suas casas.
Ao lado dos designers
A
Jasongrech, marca australiana de alta-costura, alavancou o poder da tecnologia
cognitiva para adotar uma abordagem criativa inteiramente nova nos designs,
aplicando-a na escolha de tecidos, texturas e paleta de cores.
A marca
estabeleceu parceria com a IBM para a Melbourne Fashion Week utilizando a
tecnologia cognitiva – via Watson na IBM Cloud – com o objetivo de injetar uma
dose significativa de novidade nos seus designs.
No total,
foram analisados 10 anos de imagens de moda de passerelle e livros de designers
específicos, adicionados ao fluxo de informação do Twitter, Instagram e
Pinterest em tempo real.
Durante
anos, os coordenados da Jasongrech foram desenvolvidos em esquemas de cores
escuras. Mas ao recorrer à tecnologia de reconhecimento visual da Watson para
identificar e categorizar as opiniões dos consumidores em termos de tecidos,
padrões e cores, a Jasongrech previu a mudança de preferências da indústria
para os tons pastéis. O processo de recolha e análise de informações demorou
cerca de quatro dias, face aos 28 dias normalmente exigidos, e as vendas
aumentaram significativamente.
Num outro
exemplo, a dupla de designers indianos Falguni e Shane Peacock colaborou com a
Watson para inspirar o design da nova coleção da marca, baseada na história da
moda de Bollywood. Foram analisadas 600 mil imagens que abrangeram as semanas
de moda de Londres, Paris, Milão e Nova Iorque para informações sobre alta-costura,
às quais se juntaram depois 8 mil imagens de Bollywood de redes sociais e
imagens de cartazes de Bollywood das últimas quatro décadas.
Esses
dados, combinados com uma análise de 100.000 amostras impressas, permitiram
gerar novos estampados com as cores mais cobiçadas da estação.